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Publicado em: 03/09/2015 às 12:25
Aves em extinção no Estado recebem cuidados no Centro Pró-Arara
Seis bicudos já estão reabilitados e serão encaminhados para pesquisadores da Fundação Zoológico de São Paulo para possível reintrodução à natureza

Essas aves já não existem mais no Estado de São Paulo e no Brasil só 250 foram identificadas. Trata-se do bicudo (Sporophila maximiliani), espécie rara de pássaro que foi encaminhada para cuidados especiais no Centro Pró-Arara, espaço destinado à reabilitação de aves silvestres, localizado no Parque Municipal Fábio da Silva Prado.

Em um ano de funcionamento, o Centro já recebeu seis bicudos desta espécie, encaminhados pela Polícia Ambiental de Ribeirão Preto e vítimas de posse irregular e inadequada. A maioria dos animais encaminhados ao Centro é vítima de tráfico de ou de maus tratos.

De acordo com a coordenadora do Centro Pró-Arara, a veterinária Fernanda Senter Magajevski, as aves chegaram ao espaço com lesões no bico e na testa, porém já estão reabilitadas e em condições de serem devolvidas à natureza. “Alguns dos bicudos estavam também com as unhas bem compridas, o que pode significar que utilizavam um puleiro inadequado. As aves foram medicadas contra vermes e receberam anilhas, procedimento padrão realizado no Pró-Arara”, explicou.

Levantamento apontado pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e o ICMBio - Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade apontam que os bicudos são classificados como criticamente em perigo de extinção, sendo que essas espécies não são mais encontradas na natureza do Estado de São Paulo.

Também conhecido como bicudo-do-norte (SP), bicudo-preto e bicudo-verdadeiro, ele (Sporophila maximiliani) é uma ave passeriforme da família Thraupidae.

A ave habita pastos alagados, veredas com arbustos, bordas de capões de mata, brejos, beiras de rios e lagos, aparentemente em locais próximos à água, onde há o capim-navalha (Hypolytrum pungens), navalha-de-macaco (Hypolytrum schraerianum) ou a tiririca (Cyperus rotundus) seus alimentos básicos na natureza. Aprecia ainda arroz, o que colabora muito para o seu desaparecimento, vitimado por agrotóxicos.

Devido a apreciação de seu canto para torneios, é alvo de traficantes de animais, o que faz seu status de preservação ser CR (Crítico) de acordo com o Ibama. É uma espécie rara que vive em pares bastante espalhados. Prefere regiões de clima quente, com temperatura acima de 25°. Durante a maior parte do ano são encontrados aos casais.

Reprodução da espécie

Por serem aves que correm o risco de extinção, a destinação dos bicudos é bem complicada. As espécies recebidas no Centro Pró-Arara são fêmeas, o que impossibilita a reprodução na natureza em fragmentos florestais da região de Araras. Para solucionar a questão, o Pró -Arara fará parceria com a USP (Universidade Federal de São Paulo) e a Fundação Parque Zoológico de São Paulo, que desenvolvem um projeto pioneiro de reintrodução experimental de bicudos na natureza.

“Eles realizam um trabalho inovador com embasamento científico e realizado por profissionais de renome na área de avifauna silvestre do Brasil. Os seis bicudos serão encaminhados para eles, para que possam ser soltos em uma área específica para este tipo de espécie, localizada também em uma área particular”, disse Fernanda.

Ainda segundo ela, nesta área, as aves serão monitoradas quase 24 horas por dia. “Os pesquisadores ficaram muito entusiasmados em encontrar os bicudos, pois disseram que já haviam rodado todo o Brasil e encontraram as mesmas espécies apenas no Estado do Mato Grosso. Nesta área de soltura, as espécies poderão formar pares com espécies macho para, assim, se reproduzir e repovoar as matas do Estado de São Paulo”, completou.

Pombo-correio

Outra espécie curiosa de ave foi trazida ao Centro Pró Arara em agosto: um pombo-correio. “Um senhor esteve aqui e trouxe a ave, dizendo que ela apareceu em seu quintal. Ele disse que tentou fazer com ela fosse embora, mas a ave insistia em ficar. Sabendo de nosso trabalho, trouxe o pombo para cuidarmos dele e acharmos seu dono, pois a ave estava anilhada”, disse Fernanda.

A veterinária ainda acrescentou que quando analisou o pombo percebeu algumas características peculiares. “Pesquisamos mais e percebemos que não se tratava de um pombo comum. Eles tem uma carúncula mais acentuada na base do bico, características que pertencem à linhagem original de pombos-correios”, disse.

Além disso, o pombo trazia uma anilha com identificação da Federação Columbófila Brasileira, uma espécie de associação de criadores de pombos, especializada em columbofilia - modalidade desportiva relacionada a corrida entre pombos-correio. “Entramos em contato pelo site da Federação e informamos o número da anilha para tentar localizar o dono da ave. Até agora, ninguém entrou em contato conosco. Peço que, se alguém souber de algo, nos procure para podermos devolver a ave ao dono”, alertou Fernanda.

O atual pombo-correio é fruto de cruzamentos de algumas raças belgas e inglesas, efetuados na segunda metade do século XIX. Este tipo de pombo foi continuamente selecionado a fim de apurar duas características principais: o sentido de orientação e um morfotipo atlético.

O pombo-correio caracteriza-se, entre outras, pelas seguintes propriedades: vivacidade, rapidez de voo, penas abundantes e brilhantes, rabo sempre pregueado, pescoço muito erguido e grande resistência à fadiga. Eles têm peso médio entre 425 e 525 gramas para os machos e 480 gramas para as fêmeas. É capaz de percorrer num só dia distâncias de 700 a 1.000 km., a velocidades médias superiores a 90 km por hora.

Essa espécie foi muito usada durante a Segunda Guerra Mundial para o envio de mensagens e documentos. Os pombos-correios foram usados para carregar mensagens escritas em papel claro fino (tal como o papel de cigarro) em um tubo pequeno unido a um pé - por isso o nome de pombo-correio.


Horácio Busolin Júnior /Secom
Com informações do site Wikiaves e da Federação Brasileira